Monday 21 March 2011

Ano Europeu do Voluntariado - Partilhando, pode ser que desperte o desejo:)


Acabo de responder ao e-mail de um grupo de alunos do 10ºano.
Fez-me reviver momentos tão importantes que não resisto à partilha que, quem sabe, pode semear por aí o desejo de ser voluntário por uma causa.


-É/foi voluntário(a) em que área?

Fui voluntária na área da saúde/ oncologia

-A que associação está ligado(a)?

Liga Portuguesa Contra o Cancro, fiz voluntariado no Instituto Português de Oncologia do Porto

-E porquê essa associação?

O trabalho de voluntariado na LPCC tem duas vertentes que me dizem muito: o trabalho ao nível da saúde pública na área da prevenção, mais especificamente na educação para a saúde; e o apoio, a companhia a doentes oncológicos ao nível do internamento hospitalar. A primeira por esta ser uma doença com diversas causas evitáveis, e a segunda porque a minha avó teve cancro de mama e, mais tarde, de pulmão. Felizmente foi-lhe possível ficar em casa, mas tendo acompanhado de perto o sofrimento dela, cedo percebi o quanto este poderia ser potenciado quando a pessoa está longe de casa numa situação de internamento.

-Quando começou a exercer o voluntariado?

Assim que a LPCC me autorizou, aos 18 anos. Tinha feito o pedido de inscrição aos 16 anos, através de uma entrevista, mas na altura foi-me explicado que não trabalham com menores. Uns dias depois do meu 18º aniversário recebi uma carta com a data da nova formação de voluntários e a pergunta chave “ainda quer ser voluntária?”. A resposta era muito clara para mim: SIM!

-O que fazia lá?

Trabalhava no serviço das flores. Uma tarde por semana as voluntárias deste serviço iam colocar uma flor num solitário que existia em todas as mesas de apoio. A mudança da flor da semana anterior para a nova era sempre um bom quebra-gelo, um gesto de carinho para chegar ao outro, o da atenção, da companhia…

-Que mensagem tenta passar às pessoas que ajuda?

“estou aqui”. Era só isso que me interessava, que soubessem que estava ali, fosse para escrever uma carta, para ler um livro ou uma revista, para ouvir, para contar novidades do exterior, para segurar a mão, ou simplesmente para “estar”.

-Como levaria alguém a exercer o voluntariado?

Fazer algo por alguém, apenas porque somos capazes de o fazer, sem esperar nada em troca, pode não ser sempre um mar de flores. É um facto. É, também, a certeza de que nos vão chegar gestos e sorrisos que, mesmo pequenos, são enormes no modo como nos marcam para toda a vida.

- Que importância tem o voluntariado para si?

Há uma coisa que o voluntariado tem, que também encontro na minha profissão, e que é das que mais significado tem para mim: marcar, fazer a diferença na vida de alguém. Só assim estamos realmente vivos. Não tenho dúvidas de que a nossa vida só faz sentido se deixarmos a nossa marca (positiva) no mundo e/ou nas pessoas que se cruzam connosco.

- Quais os problemas mais frequentes no voluntariado?

Só podemos fazer voluntariado quando já temos um meio de subsistência, isso implica muitas vezes abdicar de horas de descanso. O problema, não está na perda de tempo livre, até porque ele é preenchido “em grande”, mas sim na coordenação dos horários. Eu deixei de fazer o voluntariado semanal devido a incompatibilidades com o meu horário aqui na escola. Embora sinta falta do contacto semanal no IPO, passei a fazer outro tipo de voluntariado, na escola, e não só: um compromisso ao nível da educação para a saúde.

-Será que nos pode contar um pequeno episódio que o(a) tenha marcado?

Essa é a pergunta impossível de responder. Foram muitos, e muito marcantes. Desde os de maior sofrimento, ao encontrar vazias (pelo motivo errado) camas que durante meses estavam cheias de luta pela vida, os diálogos em silêncio que nunca me atrevia a interromper, esperando o tempo que fosse necessário para trocar as flores da capela do último piso, passando pelos muitos sorrisos e gestos de carinho, as alegrias das recuperações, até aos momentos de partilha com os restantes voluntários. Destes últimos, destaco uma voluntária, que partilhava energia e boa disposição na enfermaria que lhe era destinada, e depois, no final da tarde, partilhava connosco mais um e outro passo na sua recuperação como mastectomizada. Os episódios que mais me marcaram, foram os muitos que têm esta palavra chave - PARTILHA.

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