Monday 19 August 2019


PINK or BLUE (or any other COLORS) we LOVE you

(e não te vamos colocar em situações onde possas ser vítima de violências, mas sim educar uma sociedade onde sejas respeitado pela pessoa que és)

Há uns meses, na fila da porta solidária, após uma troca de palavras entre dois utentes que eu não ouvi, a pessoa que estava à minha frente encolheu os ombros e, rindo, disse-me (pensando que eu tinha ouvido a conversa) “as pessoas nunca sabem como me devem tratar”. Até esse momento, a única coisa que eu tinha reparado é que essa pessoa é sempre muito simpática e sorridente quando levanta e quando pousa o tabuleiro. Naquele instante, e só naquele instante, percebi que também eu não lhe conseguia atribuir um género. Facto que não me aqueceu nem arrefeceu porque não me diz respeito o género, biológico ou autodeterminado, das pessoas a quem estou  a dar sopa. Retribui-lhe o sorriso, pisquei-lhe o olho e recebi um sorriso ainda mais aberto de volta. E nunca mais pensei no assunto. Até hoje. Sim, só hoje vi o Despacho nº 7247/2019 que "estabelece as medidas administrativas para a implementação do previsto no nº1 do artigo 12º da Lei nº 38/2018."

Já tive alunos que se sentem mais felizes e se identificam mais com o segundo nome, só com o primeiro, ou com o sobrenome. Quando me lembro, tento usar o nome com o qual se identificam, mas se não me lembrar não me preocupo, porque eles têm que crescer a saber que têm um nome legal e que é por esse que, oficialmente, respondem. E a escola prepara para a vida. Também já tive os Fredo, e Alex e Becas… e se uso nomes não oficiais em atividades extracurriculares, ou em momentos mais informais é porque, e quando, me sinto disposta a fazê-lo, porque sei que o aluno não se vai esticar, não porque este pediu, e nunca em momentos oficiais. 

Um aluno em processo de mudança de género tem um documento de identificação oficial e é por esse documento que deve, na minha opinião, ser tratado. Se tem maturidade para lhe ser aprovado um processo de mudança de género também deverá ter maturidade para perceber que o processo tem um principio e um fim e que no momento em que estiver concluído irá ter uma identidade nova (que para si não é nova, mas é para a sociedade que o conheceu com a identidade biológica identificada à nascença). Não percebo a necessidade de escrever o nome com que se identifica entre as iniciais do nome que lhe foi atribuído à nascença e dos sobrenomes. Percebo, isso sim, a importância de ter o meio escolar preparado para lidar com naturalidade com o processo de transição.

Em relação aos balneários e casas de banho, vai estar um funcionário disponível a todas as horas à porta de cada um destes locais a verificar se só entram os alunos que estão em processo de transição? Ou vamos ter miúdos abusadores a usar esta capa para fazer o que muito bem entendem?
Estamos, outra vez, a construir a casa pela instalação elétrica. Temos comando para abrir o portão, mas não nos lembrámos de colocar o portão no sítio e de explicar para que é que ele serve.
Já o disse, há uns anos, temos uma legislação de educação para a saúde, educação sexual incluída, que agrada a todos. Agrada aos que a defendem e reconhecem a sua importância na construção de cidadãos, porque existe, e agrada aos que pensam que ela é uma espécie de peste, porque muitas vezes não se faz, já que ninguém controla se ela é efetiva e corretamente aplicada.

Vivemos num país onde uma grande parte da população pensa que a educação sexual serve para incentivar práticas sexuais, e os órgãos de gestão estão preocupados com o nome que está na pauta e a casa de banho que os alunos podem usar. Eu fico mais preocupada com o facto de estes poderem estar a entrar numa casa de banho com a qual se identifiquem cheia de miúdos que não têm, desde o primeiro dia na escola, uma continuada educação para a saúde e para o respeito pela diversidade. A violência emocional que terão que enfrentar nestas situações será 1000x pior do que entrar na casa de banho do seu género biológico (até o processo estar concluído) e usar as áreas com porta, porque as escolas não são um acampamento no meio do monte com casas de banho atrás dos arbustos. Há espaço para privacidade.