Wednesday 30 March 2011

lembrando que, por vezes, nos esquecemos de ver para lá da diferença

Hoje, enquanto fazia uma pergunta, numa sala que não era a minha, sempre falando com as mãos, o Miguel, sentado, com os olhos mesmo ao nível de toda aquela agitação ibérica, decidiu aprisionar uma:
"está fria"
"está mesmo, não está?"
"está, está muito fria"
e no instante antes da minha mão regressar ao trabalho normal de auxiliar de comunicação oral, estava já a ser aquecida, como uma velha bic que não escreve, num gesto de extremo empenho e seriedade que terminou com uma massagem na palma e nos 5 dedos.
"está melhor?"

Miguel,
está!
ESTOU
muito melhor:)
há umas semanas que não via para lá do mau feitio que baixou sobre ti nos últimos tempos,
"só" porque a tua fome não te deixa aceitar,
"só" porque algo não correu bem com a formação dos gâmetas dos teus pais,
"só" porque o teu par de cromossomas 15 é diferente,
"só" porque tens Síndrome de Prader-Willi.



hoje, tiveste um gesto de carinho com uma pessoa que conheces mal,
OBRIGADA
fiquei com a impressão de que andava esquecida

"I am who I am, not what I have"





Monday 21 March 2011

Ano Europeu do Voluntariado - Partilhando, pode ser que desperte o desejo:)


Acabo de responder ao e-mail de um grupo de alunos do 10ºano.
Fez-me reviver momentos tão importantes que não resisto à partilha que, quem sabe, pode semear por aí o desejo de ser voluntário por uma causa.


-É/foi voluntário(a) em que área?

Fui voluntária na área da saúde/ oncologia

-A que associação está ligado(a)?

Liga Portuguesa Contra o Cancro, fiz voluntariado no Instituto Português de Oncologia do Porto

-E porquê essa associação?

O trabalho de voluntariado na LPCC tem duas vertentes que me dizem muito: o trabalho ao nível da saúde pública na área da prevenção, mais especificamente na educação para a saúde; e o apoio, a companhia a doentes oncológicos ao nível do internamento hospitalar. A primeira por esta ser uma doença com diversas causas evitáveis, e a segunda porque a minha avó teve cancro de mama e, mais tarde, de pulmão. Felizmente foi-lhe possível ficar em casa, mas tendo acompanhado de perto o sofrimento dela, cedo percebi o quanto este poderia ser potenciado quando a pessoa está longe de casa numa situação de internamento.

-Quando começou a exercer o voluntariado?

Assim que a LPCC me autorizou, aos 18 anos. Tinha feito o pedido de inscrição aos 16 anos, através de uma entrevista, mas na altura foi-me explicado que não trabalham com menores. Uns dias depois do meu 18º aniversário recebi uma carta com a data da nova formação de voluntários e a pergunta chave “ainda quer ser voluntária?”. A resposta era muito clara para mim: SIM!

-O que fazia lá?

Trabalhava no serviço das flores. Uma tarde por semana as voluntárias deste serviço iam colocar uma flor num solitário que existia em todas as mesas de apoio. A mudança da flor da semana anterior para a nova era sempre um bom quebra-gelo, um gesto de carinho para chegar ao outro, o da atenção, da companhia…

-Que mensagem tenta passar às pessoas que ajuda?

“estou aqui”. Era só isso que me interessava, que soubessem que estava ali, fosse para escrever uma carta, para ler um livro ou uma revista, para ouvir, para contar novidades do exterior, para segurar a mão, ou simplesmente para “estar”.

-Como levaria alguém a exercer o voluntariado?

Fazer algo por alguém, apenas porque somos capazes de o fazer, sem esperar nada em troca, pode não ser sempre um mar de flores. É um facto. É, também, a certeza de que nos vão chegar gestos e sorrisos que, mesmo pequenos, são enormes no modo como nos marcam para toda a vida.

- Que importância tem o voluntariado para si?

Há uma coisa que o voluntariado tem, que também encontro na minha profissão, e que é das que mais significado tem para mim: marcar, fazer a diferença na vida de alguém. Só assim estamos realmente vivos. Não tenho dúvidas de que a nossa vida só faz sentido se deixarmos a nossa marca (positiva) no mundo e/ou nas pessoas que se cruzam connosco.

- Quais os problemas mais frequentes no voluntariado?

Só podemos fazer voluntariado quando já temos um meio de subsistência, isso implica muitas vezes abdicar de horas de descanso. O problema, não está na perda de tempo livre, até porque ele é preenchido “em grande”, mas sim na coordenação dos horários. Eu deixei de fazer o voluntariado semanal devido a incompatibilidades com o meu horário aqui na escola. Embora sinta falta do contacto semanal no IPO, passei a fazer outro tipo de voluntariado, na escola, e não só: um compromisso ao nível da educação para a saúde.

-Será que nos pode contar um pequeno episódio que o(a) tenha marcado?

Essa é a pergunta impossível de responder. Foram muitos, e muito marcantes. Desde os de maior sofrimento, ao encontrar vazias (pelo motivo errado) camas que durante meses estavam cheias de luta pela vida, os diálogos em silêncio que nunca me atrevia a interromper, esperando o tempo que fosse necessário para trocar as flores da capela do último piso, passando pelos muitos sorrisos e gestos de carinho, as alegrias das recuperações, até aos momentos de partilha com os restantes voluntários. Destes últimos, destaco uma voluntária, que partilhava energia e boa disposição na enfermaria que lhe era destinada, e depois, no final da tarde, partilhava connosco mais um e outro passo na sua recuperação como mastectomizada. Os episódios que mais me marcaram, foram os muitos que têm esta palavra chave - PARTILHA.

Wednesday 9 March 2011

are we EQUALS?

Na primeira vez que um "James Bond" é realizado por uma mulher, a acção decorre no centenário do dia internacional da mulher, e M coloca o seguinte desafio "are we equals?" ARE WE?



"We're equals, aren't we 007?" asks Dench as M, opening the film in voiceover, as Craig walks towards the camera. "Yet it is 2011 and a man is still likely to earn more money than a woman, even one doing the same job."

It is the only explicit reference to his role as Bond, though the film hints at some of the character's womanising ways in comparing his situation to that of a woman.
"As a man you are less likely to be judged for promiscuous behaviour, which is just as well, frankly ... There would be virtually no risk to your career if you chose to become a parent ... or became one accidentally.
"For someone with such a fondness for women, I wonder if you have ever considered what it might be like to be one?"
At this point Craig walks off-screen, to return in a blonde wig, dress and heels, while Dench rattles through a grim list of statistics detailing continuing inequality of the sexes worldwide. "Every year 70 million girls are deprived of even a basic education and a staggering 60 million are sexually assaulted on the way to school."
The film concludes: "So are we equals? Until the answer is yes we must never stop asking."

8.Março.2011 (100 anos)

Todos nós sabemos, de olhos fechados, a história das mais de cem mulheres que morreram no incêndio de uma fábrica de tecidos nova-iorquina, durante uma paralisação dos trabalhos, quando reivindicavam o direito a uma jornada de 10h00.

Sabemos que em 1919, na Dinamarca, foi proposto que o dia 8 de Março fosse declarado Dia Internacional da Mulher, em jeito de em homenagem às operárias de Nova Iorque.

Sabemos das histórias de mulheres que não viajam, não votam, não conduzem, não opinam, não mostram o rosto, que são privadas de amar, de ter prazer...

Ficamos chocados com a facilidade com que se "googla" o nome da primeira mulher "qualquer coisa", primeira a votar, a conduzir, primeira médica, advogada, no governo... temos feito notícia porque nos foi negado tanto tempo direitos que são nossos, como ser humanos. Afinal... qual é mesmo a diferença? O "X". O facto do espermatozóide do papá transportar um cromossoma X ou um Y muda tudo. Muda?

O percurso da mulher, em Portugal, não foge à regra. Lentamente, com conquistas absurdas por já serem suas por direito, a mulher foi trilhando um percurso com alguns marcos significativos num passado muito recente. Está tudo AQUI :)

E, do nosso cantinho à beira mar plantado, destaco esta "pérola" da generosidade:
A mulher casada pode transpor a fronteira sem licença do marido (Decreto-Lei n.º 49 317, de 25 de Outubro de 1969)
25 de Outubro de 1969
foi "ontem"